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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

Uma família da classe média rogériografada, em plena consoada

Rogério V. Pereira
Rogério V. Pereira
Estudou Engenharia Química no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. Começou a trabalhar como Técnico de Organização Industrial e terminou no topo da carreira, como sénior manager, nas áreas da consultoria em organização e gestão.

família da classe média

Não é menos verdade que, quando em grupo, cada individuo interage com o colectivo segundo uma relação dialética de adequação do que o individuo é e pensa àquilo que cada um é e pensa. Isto é, há quase sempre uma adequação de cada elemento do grupo aos  parâmetros da conduta do agrupamento, ao nível de aceitação às diferenças, às regras comportamentais que o grupo compreende, pratica e aceita.

Por exemplo, nas imagens acima, se alguém aparecesse e dissesse, “acaba já com esse paleio” ou “guarda já essa merda” o caldo estaria entornado e quem assim procedesse teria de ir celebrar a consoada para outro lado. Casos desses dispensam qualquer rogériografia pois diz-nos a prática que as lesões cerebrais são totalmente irreversíveis. São famílias-caso-perdido. Nada a fazer.

Felizmente ainda não representam a família média, da classe média. A minha família sim.

Ontem, estiveram reunidos cerca de trinta membros, de vários escalões etários e dos dois géneros. Eram avós, pais, filhos e netos. Alguns cunhados e por isso, também os respectivos primos. Eis a rogériografia média da família:

Na visão geral aparenta um cérebro normal para uma classe média (ainda) saudável. Algumas ameaças degenerativas, mas nada ainda preocupantes. Há equilíbrio na forma como se repartem as actividades de trabalho intelectual (hemisfério em favo – o esquerdo – onde os processos de actividade séria se localizam) e o trabalho lúdico, da fantasia das artes e dos afectos (hemisfério – o direito – em open space, repleto de verde e fantástica alegria). No hemisfério esquerdo, porém, há dois alertas: primeiro, as ligações sinápticas entre neurónios estão a tornar-se lentas; segundo, começa a haver falta de ligação entre hemisférios. As consequências disso é poderem essas ocorrências se tornarem irreversíveis. No hemisfério direito a coisa pia mais fino pois começam a aparecer várias inibições…

Toda a rogériografia foi testada na consoada e, assim, recomendo à minha família:

  • Aos que cantem só na missa, que o façam também no duche;
  • Aos que frequentam tertúlias literárias e nunca foram a um comício, que passem a fazer isso;
  • Aos que nunca foram a coisa nenhuma que passem a fazê-lo, com frequência moderada;
  • Aos que falam apenas e repetidamente de futebol diversifiquem o tema, qualquer que seja;
  • Aos que rejeitam o telejornal passem a fazê-lo vendo-o;
  • Leiam o mais que puderem, evitem autores que escrevem “a metro”;
  • Aos que falam pelos cotovelos, passem a usar os ouvidos.

E, sobretudo, atentem no alerta do Albert:

“É reduzido o número daqueles que vêem com os seus próprios olhos e sentem com o próprio coração. Mas da sua força dependerá que os homens tendam ou não a cair no estado amorfo para onde parece caminhar hoje uma multidão cega.”

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores.

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