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João de Sousa

Sábado, Abril 27, 2024

Declínio do crescimento económico

Eugénio Rosa
Eugénio Rosa
Licenciado em economia e doutorado pelo ISEG

O declínio do crescimento económico do “Ocidente alargado”, o efeito “ricochete” das sanções nas economias europeias, e o agravamento da situação sócio-ecónomica em Portugal devido à atitude submissa do governo em relação às imposições da Comissão Europeia que está atrelada aos EUA

Neste estudo, utilizando as ultimas previsões económicas e sociais do FMI (jan.2024) e da Comissão Europeia (nov.2023), mostro o que estas entidades dizem que se pode esperar este ano, em particular os europeus e nomeadamente os portugueses a nível de crescimento económico, inflação e desemprego. E se tais previsões se revelarem verdadeiras as condições de vida nos países da U.E. não melhorarão. Um aspeto que causa surpresa aos que previam o colapso rápido e inevitável da economia russa devido às sanções é a previsão de crescimento económico da Rússia em 2024 (2,6%) ser superior em 188% à da Zona Euro (0,9%).

O efeito ricochete das sanções, que alertamos atempadamente, são agora já visíveis para todos e, nomeadamente para os europeus e, dentro destes, para os portugueses que as sentem as suas consequências de uma forma agravada devido aos baixos salários e às baixas pensões. E a guerra na Palestina está a agravar ainda mais a situação. E termino analisando a evolução da divida publica portuguesa entre 2015 e 2023, mostrando que a portuguesa sofreu um corte de 21,2 pontos percentuais do PIB, quando, no mesmo período,  na U.E. diminuiu em média 4,9 pontos percentuais do PIB e na Zona Euro 2,2 pontos. E isto só foi possível cortando, sem avaliar as consequências, o investimento público, esmagando salários e o poder de compra dos trabalhadores das Administrações Públicas e, utilizando a inflação, para aumentar enormemente as receitas de impostos. A insatisfação e contestação que tudo isto gerou criou as condições para a ascensão da extrema-direita que agora todos se queixam.

 

Estudo

O declínio do crescimento económico do “Ocidente alargado”, o efeito “ricochete” das sanções nas economias europeias, e o agravamento da situação sócio-ecónomica em Portugal devido à atitude submissa do governo em relação às imposições da Comissão Europeia que está atrelada aos EUA

O FMI divulgou em janeiro de 2024 o seu “Word Economic Upadate” com as previsões do crescimento económico para 2024 e 2025 dos países a nível mundial, e a Comissão Europeia tinha feito o mesmo no último trimestre de 2023 para os países da U.E. São precisamente os dados dessas duas entidades, que não podem ser acusadas de pretender denegrir o ocidente e de defender a China e a Rússia, que vamos utilizar neste estudo para que os leitores fiquem informados do que nos espera no futuro próximo de acordo com elas, que são da confiança dos governos ocidentais.

 

O DECLINIO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO DO CHAMADO “OCIDENTE ALARGADO” E O REDUZIDO EFEITO DAS SANÇÕES NA ECONOMIA DA RÚSSIA E O EFEITO DE RICOCHETE NAS ECONOMIAS DA ZONA EURO

O quadro 1 com as previsões do FMI que, as que importam são de 2024, pois as de 2025, é um ano que ainda está distante por isso estão mais sujeitas a ajustamentos maiores como a experiência tem mostrado.

Quadro 1 – Previsões do FMI DE crescimento económico – mundial, de regiões e dos países mais importantes – 2023/2025

Como revelam os dados do quadro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o crescimento da economia mundial continue reduzido em 2024 (3,1% igual ao de 2023), embora diferente de região para região e entre países. O crescimento económico naquilo que o FMI domina como “Mercados emergentes e economias em desenvolvimento” em 2024 prevê que será de 4,1%, enquanto para as economias do agora designado “Ocidente alargado” (Estados Unidos, Japão, Canadá e Europa) a previsão de crescimento económico do FMI é apenas 1,5% em 2024. E no “Ocidente alargado” destaca a Zona Euro com um crescimento ainda mais negativo de apenas 0,9% em 2024. E a chamada “locomotiva” da U.E. que devia arrastar as outras economias – a Alemanha – a previsão do FMI para 2024 é ainda mais pessimista, pois é apenas 0,5%, depois de uma recessão técnica em 2023 (-0,3%). É evidente, que perante este crescimento medíocre previsto pelo FMI para 2024, os europeus e, nomeadamente os portugueses, não podem esperar uma melhoria nas suas condições de vida.

Um aspeto surpreendente nestas previsões do FMI é a taxa de crescimento económico em 2024 da Rússia (+2,6%),superior em 188,9% à da Zona Euro (0,9%). E isto quando a Comissão Europeia, os governos da U.E., os “experts” ocidentais, e defensores nacionais das sanções (em Portugal, governo e presidente da República as defenderam com o estranho argumento de que as importações/exportações da e para a Rússia eram mínimas por isso o efeito Na economia portuguesa seria praticamente nulo “esquecendo-se” que vivemos num mundo globalizado), anunciavam em alto e bom som, como fosse uma verdade indiscutível, o colapso rápido da economia da Rússia.

Na altura alertamos para o efeito “boomerang” (ricochete) sobre as economias europeias e sobre as condições de vida dos europeus das sanções. E elas estão à vista de todos: crescimento económico medíocre, aumento de custos da produção (ex.: pesticidas, agora importa-se cada vez mais do “amigo americano” que obtém grandes lucros, a nível de gás a dependência passou da Rússia para os EUA que agora está a criar dificuldades ao aumento das exportações), inflação, perda de poder de compra, aumento da pobreza. É um risco muito grande utilizar a economia como arma de guerra como alertamos e a experiência está a mostrar. Só para os incompetentes de Bruxelas é que é uma arma eficaz.

 

AS PREVISÕES DA COMISSÃO EUROPEIA PARA U.E., PARA OS PAISES MAIS IMPORTANTES E PARA PORTUGAL

As previsões da Comissão Europeia confirmam as do FMI em relação aos países da U.E. para 2024. O gráfico 1, com dados divulgados já em nov.2023 pela C.E., confirma um crescimento medíocre e o atoleiro em que se meteu a U.E., de financiar a guerra e a reconstrução da Ucrânia sem limites agora agravada pela “retirado do tapete pelo amigo americano que agora a deixou só”, devido à falta de visão estratégia e de firmeza dos governos para defender os interesses dos seus nacionais, incluindo o português que tem andado submissamente a reboque da Comissão.

As barras e os valores a castanho-claro referem-se a 2024 pois são aqueles que nos interessam para saber como as entidades oficiais preveem a evolução da situação económica e social este ano. Segundo a Comissão Europeia o crescimento económico em 2024 da U.E. será 1,3%, e nos parceiros comerciais mais importantes de Portugal ainda mais medíocre ( Alemanha de 0,8%, França 1,2% Espanha 1,7%) aumentando o PIB no nosso país apenas 1,3% em 2024.

A inflação média na U.E. 3,5% e, em Portugal, 3,2%; e a taxa de desemprego na U.E. 6% e, em Portugal, 6,5%. As previsões da Comissão Europeia para 2024 não são boas para os europeus e muito menos para o nosso país, pois com taxas de crescimento de 1,3% o país não consegue sair do atraso crescente em que se encontra mergulhado.

 

O ESTRANGULAMENTO DA ECONOMIA E A DESTRUIÇÃO DO TECIDO SOCIAL E DO ESTADO EM PORTUGAL CONSEQUÊNCIA DA REDUÇÃO À BRUTA DA DIVIDA PÚBLICA, SUPERIOR AO REGISTADO NOS PAÍSES DA U.E., NUM PERIODO MUITO CURTO

O quadro 2 (dados do Eurostat) mostra, mais que quaisquer palavras, a redução da divida pública em Portugal a um ritmo tão brutal que estrangulou a economia, destruiu o aparelho do Estado e próprio tecido social (mais pobreza).

Quadro 2 – A evolução da divida pública na U.E., na Zona Euro, nos principais países e em Portugal 2015/2023


Segundo o Eurostat, entre 2015 e 2023, a divida pública em Portugal diminuiu 21,2 pontos percentuais do PIB (passou de 128,7% para 107,5% do PIB, mas segundo os critérios de Maastricht, que não inclui a totalidade da divida do Estado, no fim de 2023 era de 98,7% do PIB segundo Medina embora para isso tenha utilizado a artimanha de obrigar o IGCP a adquirir cerca de 7000 milhões € de divida pública a privados com os fundos que entidades publicas – Segurança Social, ADSE, SFA, etc.- depositados obrigatoriamente no IGCP); repetindo, enquanto Portugal reduziu em 21,2 p.p., no mesmo período na U.E. diminuiu em média 4,9 pontos percentuais do PIB e na Zona Euro 2,2 pontos. Na França e a Espanha a divida pública até aumentou, respetivamente, 14,3 e 10 pontos percentuais do PIB.

Os outros países da U.E. tiveram o cuidado de reduzir a divida de forma equilibrada para não estrangular a economia, nem destruir o tecido social, aumentando a pobreza, nem o Estado, causando a degradação dos serviços públicos. Em Portugal os governos de Costa, à semelhança do governo de Passos Coelho/Portas, fizeram a redução da divida pública à bruta cortando, sem olhar às consequências, o investimento público, esmagando salários e poder de compra dos trabalhadores da Função Pública. Tudo isto degradou profundamente os serviços públicos pondo em risco o crescimento económico e o desenvolvimento do país.

Utilizou-se a inflação para aumentar enormemente as receitas de impostos sem se avaliar as consequências sociais. E deixa-se um país com uma economia frágil, que só não entrou em recessão à custa fundamentalmente ao turismo, uma atividade de baixos salários e baixa produtividade. Portugal é um país em que o salário médio está cada vez mais próximo do salário mínimo. Tudo isto causou a insatisfação e o aumento da contestação social (médicos, enfermeiros, professores, trabalhadores dos tribunais, forças de segurança, agricultores, etc.). E assim criaram-se as condições para a ascensão da extrema-direita que agora todos se queixam.


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