Diário
Director

Independente
João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

Deslizam palavras por teus dedos

João de Almeida Santos
João de Almeida Santos
Director da Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração e do Departamento de Ciência Política, Segurança e Relações Internacionais da ULHT

DESLIZAM PALAVRAS POR TEUS DEDOS…
(Poema em dez andamentos)

I.

Disse-te um dia:
“- Voarei contigo
Para os confins
Do Tempo
Montado
Num risco
De asas
Azuis
Que batam
Na linha
Vasta
Do horizonte
Em fuga,
Para lá das nuvens,
Onde escreverei
O teu nome

Com as palavras
Deste poema!”

II.

Teus cabelos
Negros
São novelos
De tinta
Da china,
Moldura
De teu rosto,
Desfiados
Colo abaixo
E desenhados
Por dedos
Subtis
Que alongam
Até mim
A tua silhueta
E me elevam
Aos montes
Do Parnaso…

III.

Perfil de mulher
Enlaçado
Em mãos
Que o desenham,
Como espelho de si,
Em  subtis geometrias
Num ponto
Do horizonte
Para onde converge
O meu olhar
À procura
Do infinito…
…………………
Em busca
Dos traços
De teu rosto!

IV.

Casas
Alinhadas,
Ruas
Convergentes,
Cores intensas
E dispersas
(Tão quentes)
Que esbatem
Os ângulos
Dessas esquinas
Crispadas
Da vida
Com a beleza
De um risco…
…………………..
Dito em silêncio!

V.

Fontes,
Água,
Fugas,
Sempre fugas,
Em levitação,
Como se o espaço
Fosse prisão
Ou amarra
E gravidade
Que puxa
(De verdade)
Para o fundo
Escuro
Da vida!

VI.

Ah! Como gostaria
De saltar
Para dentro
Dos teus desenhos,
Deslizar pelos
Teus dedos
E voar
À procura
De um amor
Perdido
Ou nunca
Encontrado
E carregar
Aos ombros
Essa leveza
Densa
Que nunca tive…
……………………….
Mas sempre sonhei!

Vestir-me de cores,
Alinhar-me com
Traços dispersos
Para passear contigo
No escuro
Dos teus olhos,
Desenhando
O teu corpo
Como se escrevesse
um poema…
……………..
Com tinta da china!

VII.

Ah! Pudesse eu
Pintar-te
com palavras,
Dizer-te
em cores,
Abraçar-te
Agarrado
A um risco
Que saísse
Do meu olhar…
À procura
De ti…
………..
No céu do desejo!

VIII.

Vejo-te nesse fio
De água…
……………..
Uma boca
Inundada
Por onde transborda
Essa torrente
Líquida
Que cai
Em silêncio
De um pincel
Que tuas mãos
Deixam deslizar
Na brancura
De uma folha virgem
Que o vento
Soprou
Para uma mesa
Nua,
Apenas beijada
Por esse raio de luz
Que te ilumina
E acende
A imaginação
(Que tanto
me seduz)!

IX.

Ah! Pudesse eu
Pintar
Com palavras
Esses riscos
Que te tecem
A alma
Em busca
De um infinito
Que só teu olhar
Pode encontrar
Porque jorra
Da ponta de teus dedos
Como esguicho
De tinta da china
Que se evade
De ti
Para o ar
Rarefeito
Do espaço
Sideral
Sob forma de nuvem…
……………………………….
Que me há-de inundar!

X.

Quero alcançar
Essa fronteira
Também eu
Deslizando
Por teus dedos
E evadir-me
Para esse novelo
Desfiado
Que envolve,
Como moldura,
O teu rosto
E teu olhar
Em fuga
Sempre para
O infinito…


Ilustração: Inédito de Filipa Antunes, executado para “Deslizam palavras por teus dedos…”. 2017

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

Sobreviventes a Salazar

Mentores espirituais

A História da Pide

- Publicidade -