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João de Sousa

Quarta-feira, Abril 24, 2024

Espanto

João de Almeida Santos
João de Almeida Santos
Director da Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração e do Departamento de Ciência Política, Segurança e Relações Internacionais da ULHT

Poema de João de Almeida Santos
para um Rosto (inédito) de Filipa Oliveira Antunes

ESPANTO

Que contemplas
Em espanto
E oração,
Ó deusa
Da minha cidade?

De onde vem
Este teu rosto
Velado,
Rubor
Tão intenso
E sensual
Que se oferece
Ao olhar
(Quase)
Em pecado
Capital?

Teus lábios
Tenteiam
A palavra
Proibida,
Esse teu rosto
Ruboriza
E tu nomeias
O deus
Que te chama
À oração
Da tua vida?

Que viram
Esses teus olhos
Tão expressivos,
Meu amor?
As filigranas
D’Alhambra,
Fascinantes
Ao olhar?
Texturas
De mistério
Nas paredes
Secretas
Do teu Alcázar?

Esse rubor
Intenso
E sensual
Da tua face
É o despertar
Em fulgor
De um sonho
Ou fuga
Para o irreal!

Regressaste
À casa onde
Já não moras
E onde
De tristeza
Nunca choras
Porque te sonhas
Sempre
A cores?

Que vês tu
Agora,
Para além
Do que te dita
A alma
Em chamamento
Interior?

Expectante,
Esse teu rosto
Matinal,
Ao rubro,
Quase fatal,
Regressou
De um sonho
Ancestral
Que um dia
Tu pintaste
Com as cores
Quentes
De um desejo
Carnal…

Das origens
À catedral
Vieste
Em oração
Suplicante,
Pronta
Para o ritual
Da vida
Que te é
Destinado
Em cada instante.

Rezas ao teu
Deus?
Que destino
Anuncias
E quase
Pronuncias,
Tu, que o nome
Mais do que
O amor
Tanto temias?

Já não te chega
O que tens
Por dentro
E não te refugias
No sonho
Das viagens
Ao centro de ti
Para me procurar?

Agora,
Recoberta
De um véu
Celeste
Que te protege
A alma,
Num rosto
Quente,
Quase ardente,
Olhas para o alto
Do teu destino
E celebras
O ritual
Do teu regresso
Em êxtase
Que devolve
Às tuas mãos
O azul de um céu
Roubado
Que já não é
Meu!

Esse véu
Celestial
Assusta-me,
Sabe-me
A catedral
Onde os cânticos
Extasiam
E exaltam,
Sim,
Mas dão à vida
Um frio
Sabor
A despedida.

Mas tu
Saíste feliz
Do sonho
Nessa manhã
De sol,
Eu sei,
Encontraste
O teu caminho,
Iluminada
Por dentro
E por fora,
Pelo deus da vida
Que te bafejou!

Agora,
Olhas fascinada
Para o oráculo
Lá no alto,
Piedosa,
Pronta a segui-lo
Sem hesitar,
Em busca
Da glória
Que um dia
Há-de chegar…

Mas é caminho
Perigoso e
Traiçoeiro,
Não é sonho,
Mas vida
Incerta
Mesmo pelo véu
Da salvação
Coberta
E protegida
Ou cantada
Ao teu deus
Em oração,
Com ecos de
Catedral
E súplica
De devoção!

Regressaste,
Meu amor,
Regressaste,
Mas não sei
Para onde…


Ilustração: Rosto (inédito – a aguarela e barra de grafite) de Filipa Oliveira Antunes (27.11.2017)

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