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Sexta-feira, Abril 26, 2024

O poder em África e a dominante estratégia da defesa de interesses externos

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

A durabilidade da permanência no poder não é uma questão irrisória, é uma questão fundamental. Na verdade sempre o foi.

O multimilionário africano Mo Ibrahim compreendeu a sua importância e agiu premiando chefes de estado que promovem a mudança de poder voluntariamente.

Os actuais dirigentes permanecem no poder com a sua estrutura através de uma evolução / transição de uma ditadura monopartidária constitucional para um regime pluripartidário dito democrático liberal constitucional.

Mas é bom não esquecer que só agora esses regimes têm o efectivo beneplácito democrático do povo, antes não o tinham, mas apenas e só a crença num futuro melhor que ainda não sucedeu para a maioria.

É necessário e fundamental que haja mudanças nas estruturas não só políticas, mas também nas militares para que a separação de poderes se concretize e seja uma realidade.

Na mudança política, deve estar implícita uma mudança de mentalidades, o que ainda não acontece infelizmente. Porquê?

Porque não existe uma vontade política sincera e empenhada dos nossos políticos.

Há bastos exemplos maus vindos de vários cantos de África.

A maioria dos dirigentes ainda só pensam em perpetuar o poder.

Na República Popular do Congo em que um presidente eleito democraticamente foi derrubado por um antigo presidente, o Coronel Dennis Sassou Nguesso perante a cumplicidade e o silêncio da comunidade internacional, felizmente sem mais consequências graves para os congoleses ,nomeadamente sem a eclosão de uma guerra civil; no Uganda onde o “eterno” presidente Museveni mudou a lei fundamental  do país para possibilitar a sua continuidade no poder; o mesmo se passou com o silêncio hipócrita da comunidade internacional perante escandalosas fraudes eleitorais em Moçambique (nas legislativas e autárquicas, com prejuízo claro para a Renamo e MDM) e Angola (nas legislativas, com prejuízo para a Unita), em que as oposições foram gravemente prejudicadas desvirtuando a verdade e os votantes com clara vontade de decidirem o seu destino  e as mudanças que entendem necessárias .Desencadearam-se então toda a espécie de pressões externas para que as oposições aceitassem pacificamente os resultados, mesmo sendo fraudulentos. No caso de Moçambique vários opositores foram assassinados (nomeadamente um dos principais negociadores da paz da Renamo) por esquadrões da morte comandados por mãos invisíveis, os mesmos que balearam a seguir o então Secretário-Geral do mesmo partido e que escapou miraculosamente.

Já o oposto ocorreu com a Guiné-Bissau em que tendo a oposição assumido o poder com a vitória esmagadora do General Umaro Sissoco Embaló através de escrutínio público e eleições livres e democráticas, é comandada e permitida a desestabilização do país a partir do exterior, nomeadamente de Portugal, com largos e estranhos apoios portugueses ao actual líder do partido PAIGC.

É a hipocrisia a impor-se  através de órgãos de comunicação social portugueses e uma elite luso-africana de jornalistas e pseudo-jornalistas neles infiltrados a promoverem a desestabilização de um país soberano, quando nos casos de Moçambique e Angola hoje defendem a não ingerência em assuntos internos, mesmo quando são identificadas fraudes escandalosas. No caso de Moçambique Bruxelas por diversas vezes veio declarar publicamente após eleições, a justeza dos resultados e a liberdade que só eles conseguem ver.

Finalmente, ficou claro nos últimos anos que tanto para o ocidente como para o bloco comunista internacional o que mais interessa são a manutenção e defesa dos seus interesses e dos negócios vantajosos que concretizam com África e as grandes vantagens que daí advém,  com alguma solidariedade ideológica(em segundo plano) e compadrios pelo meio. A corrupção que por lá se instalou e largamente difundida no mundo como imagem de marca africana é promovida a partir dos países desenvolvidos, verdadeiros corruptores.

Em África e no mundo inteiro saímos de uma situação em que o ênfase era dado às ideologias e hoje impôs-se um pragmatismo económico – financeiro que nos atirou irrevogavelmente para um capitalismo selvagem imoral e sem qualquer regulação,  aumentando assim  ainda mais o fosso entre ricos e pobres. O consumo público obrigatório meticulosamente planeado com baixos salários para a maioria das populações e o lucro privado de apenas uma minoritária elite ditam as leis.

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