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João de Sousa

Sábado, Abril 27, 2024

A Solidão

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Um famoso cantor francês afirmou numa das suas canções : « A solidão não existe.»

No entanto, esta intrigante mensagem de esperança não convence os que diariamente se confrontam com esta triste realidade.

Há muito sofrimento no mundo, mas o maior deles é sentir-se só.

Estar só representa para muitos homens um autêntico pesadelo.

O homem hoje mais do que nunca tornou-se cada vez mais egoísta, ganancioso, interesseiro, competitivo e insensível.

Recentemente surgiu um grave problema em Cabo Delgado na República de Moçambique que convencionaram chamar “terrorismo islâmico”. A aparição desse intrigante, estranho e numeroso grupelho de homens (que inclui mercenários estrangeiros) coincidiu com a descoberta de riquíssimos e vastíssimos  recursos naturais e a assinatura de vários contratos para a sua exploração e que consequentemente iriam levar e  trazer desenvolvimento, empregos e muitas oportunidades de melhoria das condições de vida da maioria da população da região e do país. Pelo menos seria este o quadro natural não fora a ganância humana.

O que sucedeu entretanto? A descoberta destes recursos e os investimentos daí resultantes  levaram  e trouxeram a guerra, a morte, o sangue, a destruição ,o ódio, o terror, os refugiados na sua própria casa e a incerteza no futuro.

Como estará a sentir-se o povo de Cabo Delgado? É fácil de calcular.

Do actual cenário de caos e incerteza em Cabo Delgado há que destacar o apoio e ajuda humanitários que tem sido prestados a Moçambique por vários países e parceiros nos campos de refugiados que vão crescendo como cogumelos por razões de segurança.

Mas a realidade é que durante anos  escassearam programas de desenvolvimento (do agrícola em particular) na província em causa e havia inquestionável carência de investimentos. E sabemos como a República de Moçambique é um país potencialmente rico em termos agrícolas. Portanto, é altura de a par de um esforço claro de normalização e estabilização da situação em termos de segurança, haver uma aposta séria em programas de desenvolvimento agrícola  e de outros investimentos que beneficiem indiscutivelmente a sua população e o país em geral. Para que isso suceda, é necessário que os países desenvolvidos envolvidos e outros parceiros se empenhem e se envolvam  de forma mais  séria e interessada quanto os destinatários e beneficiários dessa cooperação.

As diferenças e divergências estratégicas, políticas, ideológicas e os conflitos de interesses entre investidores e destinatários devem ser postas de lado em nome da dignidade humana e dos benefícios recíprocos. Não basta só defenderem-se interesses unilaterais que normalmente levam a maus resultados.

Finalmente  todos sabemos que a fome é um problema cuja resolução está num diálogo transparente e ético  e numa saudável e construtiva cooperação entre os países desenvolvidos e os países do terceiro mundo. E que não será certamente com as ajudas alimentares  de emergência que ela será combatida. Terão de haver portanto compromissos sérios para a resolução do mesmo.

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