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João de Sousa

Quarta-feira, Maio 1, 2024

Confissões de uma mulher à deriva

Às vezes a persistência nos faz tolos, mas sabe a troféu quando chegamos ao extremo. Ver para crer…Mas hoje, por estranho que pareça, invadiu-me uma estranha nostalgia, uma saudade intensa dos meus tempos de menina… Quando na pureza escrevia sem acentos e enfrentava a vida com certo medo.

Tinha medo do escuro… senti saudades dos cheiros e sabores do nosso pomar, coisas que me inspiravam a sonhar, ai meu primeiro beijo… roubado pelo vizinho lá no curral dos porcos, às vezes que trepávamos até ao topo da mangueira para apanhar a última fruta. Sem medir consequências só nos importava a meta e nunca a trajectória… e no topo da árvore o fruto maduro e doce, às vezes nem tão doce, e pelos troncos galhos secos e ocos eram ignorados e pisados com entusiasmo se caíssemos… Às vezes depois da advertência e do bom puxão de orelhas vinha o curativo e com alguma “sorte“ ganhávamos um membro engessado.

Na vida não há um meio-termo, sem remendos nem curativos, quando escorregamos e caímos ela machuca o ego, a virtude, o ser e até o ter. E os ralhetes são agressivos. A pressa de ver as coisas acontecer empurra-nos para o precipício.

Às vezes chegamos a calcular mas ainda assim falhamos por meio milímetro de estratégia a mais ou a menos. Nunca estamos preparados para o fracasso, e até as vitorias às vezes nos apanham desprevenidos, e uma pessoa como eu que conhece o sabor da bílis sabe que a vida é uma caixinha de surpresas mas nunca é demais estarmos prevenidos para então valermos por mais uma.

Todas as batalhas carecem de uma armadura, mas para a vida só precisamos daquilo a que alguns chamam de saco, outros de estômago e eu chamo de pachorra… saber aturar e aceitar certas circunstâncias. Cada um vai remediando, o velho farrapo com prazeres que distraem a mente e empurram a alma para purgatório.

Lembro-me de um dia ter subido até à copa da árvore e alcançado o fruto, depois de o arrancar, atirei-o para baixo que foi prontamente agarrado e comido, enquanto eu me esforçava para descer a minha maninha degustava calmamente o meu troféu. Só chupei o caroço.

A autora escreve em PT Angola

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